Nº 12 Ano II /1998 - Revista Qualidade na Construção

Construção voltada para a redução do estresse – Silvio Heilbut

Quem se dispuser a um pequeno exercício de memória e pensar em um edifício comercial construído até o início da década de 80 anotará algumas observações interessantes. Não será difícil lembrar de problemas relacionados com fiações de telefonia, informática, redes internas e de energia, além de outros detalhes não previstos em prédios levantados há mais de vinte anos. Alguns deles, mais arrojados, ainda têm no piso uma rede de dutos para telefonia e eletricidade, com espaçamentos adequados para a época. Hoje, totalmente ultrapassadas, essas redes estão sendo substituídas por outras mais avançadas ou por pisos elevados, shafts e outras soluções que permitem aos responsáveis pelos departamentos de manutenção das empresas se preocuparem com outros problemas – já que essas técnicas, de alta flexibilidade, resolvem as complicadas passagens de cabos e fios de forma bastante simplificada.

A infra-estrutura necessária ao funcionamento dos equipamentos é básica para sua operação. Deve-se, entretanto, atentar para a organização dos espaços sob o piso elevado, que deve ser distribuído e gerenciado, evitando confusões e permitindo fácil identificação das diferentes redes ali instaladas.

A facilidade de manutenção de todos os elementos que constituem um escritório é por demais importante, seja ele de que tamanho for. Quando entregamos uma obra ao cliente, temos que ter consciência de que é ele , cliente, que irá viver no espaço que criamos. Escritórios são organizações dinâmicas. Muitos mudam seu layout interno com freqüência. A facilidade de efetuar essas mudanças é básica num projeto arquitetônico bem conduzido. Por isso, tal característica deve aparecer em todos os elementos a serem especificados, desde o caminho das fiações, passando pelo tipo de luminárias, até o mobiliário que precisará ser desmontado e montado em nova posição.

Com o avanço da tecnologia e das reivindicações de funcionários e sindicatos, as condições de trabalho passaram a seguir as regras da ergonomia, à medida que determinadas doenças passam a ser tratadas como conseqüência de más condições de trabalho. Da mesma forma que os equipamentos nos escritórios necessitam de infra-estrutura adequada, o ser humano tem que trabalhar num mobiliário conveniente às suas necessidades. Uma cadeira tem que se ajustar à altura e ao peso da pessoa. Não se deve fazer uma pessoa alta trabalhar curvada sobre uma mesa de 72 cm de altura, somente porque esse é o padrão do mercado.

Ela sentirá, em pouco tempo, dores nas costas. Da mesma forma, uma pessoa baixa sentada numa cadeira não pode ficar balançando os pés. Qualquer pessoa tem de encostar os pés no chão, mantendo um ângulo reto entre a coxa e a perna. A partir daí é que se determinará a altura do tampo da mesa, que deveria ser ajustável.

Mal comparando, seria o mesmo que ligar o computador de 110 V numa tomada de 220 V. Como o computador não é flexível, ele queima, isto é, se acaba, sem chance de ter “dor nas costas”.

Ainda são muitas as empresas que, quando decidem reformar seus escritórios, não consideram no seu orçamento o investimento em mobiliário adequado. Mas é animador o número daquelas que já estão avaliando essas condições e se adaptando. Independentemente do porte, é crescente a quantidade de organizações que na hora de se instalar ou reformar já dão pesos iguais nas decisões sobre qualidade de equipamentos e mobiliário.

Os próprios funcionários, muitas vezes, ficam surpresos com as maravilhas tecnológicas que lhes são oferecidas pelas empresas e não percebem o desconforto de sua própria instalação, imprópria. A iluminação tem que ser condizente, da mesma forma que os tratamentos acústico, visual e de conforto térmico.

Com a tendência de se agrupar mais pessoas num mesmo espaço, em função dos trabalhos desenvolvidos em equipe, um ambiente barulhento, sem os devidos cuidados acústicos, deixa qualquer um feliz – mas somente quando sai desse local. Não é essa, creio, a intenção do empresário.

O silêncio, às vezes, é música para os ouvidos. É preciso tomar cuidados especiais na hora de eleger os materiais de acabamento dos ambientes de trabalho. As pessoas que necessitam falar durante o expediente, seja entre si ou ao telefone, num ambiente pequeno e com materiais reverberantes, ficarão exaustas em pouco tempo. Por outro lado, pessoas que têm de se comunicar num ambiente totalmente absorvente do ponto de vista acústico, chegam esgotadas ao fim do dia, de tanto falar alto. É preciso encontrar o meio termo adequado a cada situação.

O visual do escritório é outro aspecto que não deve ser descuidado. São muitos os escritórios que sem maiores considerações adotam como padrão todos os tons em bege ou cinza, do carpete, passando pelas cadeiras e armários, até a cor da roupa do gerente ou da secretária. As cores devem ser usadas de forma adequada, de acordo com o ambiente que se quer criar e com as características das pessoas que nele irão trabalhar. Uma avaliação adequada do caráter da empresa irá permitir ao arquiteto especificar tonalidades, de modo a manter o ambiente digno e satisfatório ao seu uso.

Na natureza, paisagens alegres são aquelas com cores. As paisagens cinzas e beges são características de monotonia e tempo nublado. Podem acalmar, mas em geral vão além, deprimem. Cores vivas são estimulantes, fazem bem ao espírito. O cuidado aqui é com os excessos, que também podem causar cansaço e irritação.

A iluminação adequada, sem ofuscamentos e sem reflexos nas telas dos computadores, é trabalho do profissional de luminotécnica, uma especialidade que evoluiu de forma fantástica nos últimos anos. A escolha correta do tipo de lâmpada e da correspondente luminária em muito irá contribuir para o conforto em qualquer ambiente de trabalho. A abertura do nosso mercado às importações nos permite ter hoje, no Brasil, iluminação de alta (e adequada) qualidade.

Não é o excesso de luz que determina essa qualidade. Às vezes, uma iluminação reduzida, distribuída de forma homogênea pelo ambiente e reforçada nas áreas onde se tornam necessárias, dá a contribuição exata para o melhor desempenho de determinadas tarefas burocráticas. A lâmpada dicróica é excelente, mas não é, como muitos pensam, o melhor elemento para a iluminação de um escritório.

Trabalhar em ambientes internos abertos, uma tendência seguida por muitas organizações, requer, por sua vez, mobiliário adequado, não necessariamente de custo elevado. O compartilhamento de informações é a grande vantagem para a empresa, nesse tipo de ambiente. Mas uma preocupação é importante: pessoas que sempre trabalharam em salas fechadas merecem da empresa um programa, mínimo que seja, de adaptação ou treinamento, para que sua performance não seja afetada negativamente pelas novas condições.

Enfim, é no ambiente de trabalho que passamos a maior parte de nossas vidas adultas. Esse lugar deve ser agradável e suficientemente atraente para que a perspectiva da volta, no dia seguinte, inclua uma disposição ainda maior do que a do dia anterior.

A arquitetura de interiores, muito longe de ser mera maquilagem ou modismo, é um indicador da qualidade de um projeto, porque se aproxima do fim maior; o bem-estar do ser humano. Integrá-la desde o início aos projetos, hoje tão centrados em busca de novas tecnologias construtivas e de produtividade, é adotar uma visão que contempla não a economia imediatista, mas a economia de longo prazo, que estende seus efeitos benéficos para todos os setores envolvidos com a produção construtiva.