Revista Casa & Mercado N° 40

Arquitetura engajada

Arquitetos participam de iniciativas por melhores condições de vida da população mais carente.

Segundo o recenseamento realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) em 2001, a população de rua cresceu 20%, subindo de 8.706 para 10.394 pessoas em relação ao ano anterior. Desse total, 32% correspondem aos catadores de papel e papelão (ou carrinheiros), público para o qual se destina o Projeto Oficina Boracea, localizado na Barra Funda (SP). A oficina seria apenas mais uma ferramenta do governo municipal, não fosse o envolvimento de profissionais do calibre de Roberto Loeb em sua execução.

O espaço repaginado por ele e por Luís Capote e inaugurado em junho do ano passado faz parte do projeto Reconstruindo de Vidas, desenvolvido pela Prefeitura Municipal de São Paulo, que envolve várias Secretarias Municipais, organizações sociais, universidades e empresários.

O espaço tem o propósito de atender homens, mulheres e famílias em situação de rua, em especial carrinheiros, oferecendo-lhes espaço para acolhida, higiene pessoal, alimentação, lazer e trabalho. O galpão de 17.000 m², que antes abrigava uma garagem desativada da prefeitura, assumiu com o projeto dos arquitetos o conceito de hotelaria pública de curta permanência, ganhando também ares de centro cultural com a inclusão de espaços para atividades afins e oficinas de trabalho. "As construções buscam criar um ambiente agradável, em espaços abertos que permitem a interação social", afirma Loeb.

O local é um grande abrigo para os carrinheiros, que têm espaços individuais com guarda-volumes e maleiro. Há repartições para os que desejam dormir próximos de seu carrinho ou espaço para a guarda de sua ferramenta de trabalho, tendo como opção o uso dos dormitórios de acolhida. Respeitando a privacidade dos catadores, foram criados núcleos de sanitários e banhos com compartimentos individuais com chuveiro, bacia e pia, onde a pessoa em situação de rua tem a possibilidade de desfrutar de um momento de intimidade. Desses, três são destinados ao uso familiar.

A parceria com o Centro de Controle de Zoonoses resultou na construção de um canil para abrigar os animais dos catadores, com espaços para exames, banho e tosa. A Oficina possui outros espaços,como cinema com 50 lugares, que contou com a colaboração do cineasta Hugo Giorgetti na concepção do projeto; capela, espaço para triagem e venda do material recolhido pelos carrinheiros, salão com camas individuais divididas por telas, pavilhão para a terceira idade com estar e banheiros, refeitório e outros. Planejado para instalar 800 pessoas, o projeto é considerado modelo e já recebeu a visita de comitivas internacionais vindas da Alemanha, Itália e Holanda, além de políticos como o presidente Luís Inácio Lula da Silva, o que comprova seu grau de inovação no conceito de abrigo público.

Simples e eficiente

Inaugurada em Março, a nova sede da OAT - Oficina Abrigada de Trabalho-, no Brooklin (SP), que capacita jovens e adultos deficientes mentais com atividades profissionalizantes, ganhou de presente o trabalho voluntário do Arquiteto Silvio Heilbut. Ele reformou a casa já existente, transformando-a na sede administrativa, onde as portas das dependências foram pintadas de verde, amarelo, vermelho e azul para facilitar a identificação. Um novo bloco, construído com grandes salas, bem iluminadas e ventiladas, será espaço para a confecção de velas e sabonetes, reciclagem de material, encadernação de blocos e uma pequena gráfica. O destaque do projeto fica por conta do baixo custo dos materiais utilizados na construção, como blocos de concreto e concreto aparente e de medidas adotadas para facilitar a acessibilidade dos ambientes, como a instalação de rampas e elevadores. "É uma oportunidade que temos para mostrar a nossa experiência em benefício de quem mais precisa. A arquitetura não se resume apenas em fazer prédios luxuosos e museus", acredita Heilbut.