no 2 Nº. 60 /2005 – Jornal O Estado de São Paulo, seção Casa &

Horizonte dentro de casa

Silvio Heilbut aproveita ao máximo a luminosidade natural e dá outra qualidade à cobertura, com ofurô

É um apartamento de cobertura na Vila Madalena, e a luz zenital invade os ambientes como se fosse um grande lustre no andar de cima. Engana-se quem pensa se tratar de uma clarabóia: a claridade vem do exterior do prédio pela escada, que comunica os dois andares e está envolvida por paredes de vidro no andar superior.

Silvio Heilbut, arquiteto e amigo dos proprietários, fez de tudo para que, em um lugar de um imóvel tradicional de cobertura, a família morasse em um apê iluminado. “Algumas coberturas em São Paulo são “dois andares” com layout confuso... Esta era uma delas”, conta o arquiteto. “Entretanto, a varanda fazia bonito na frente da sala de estar. Por isso, costumo dizer que os clientes compraram primeiro o horizonte, depois o apartamento.” A solução foi unir as vantagens da planta com escolhas acertadas na reforma do apartamento. Da compra até a mudança, passaram-se quase sete anos, entre negociações com a administração do prédio e finalização dos acabamentos. Deu trabalho, mas também deu certo. Com 365 m² de área interna, o apartamento tem espaço de sobra para a família e, na cobertura, ganhou ofurô (da Ofurô de Madeira, modelo Hot Tube, em cedro rosa e 1.500 litros, sai por R$ 7.500), sala de home theater, escritório, salão (pequeno) de festas e canil.

O primeiro acerto aconteceu no lavabo, que ficava perto demais do living. Silvio decidiu afastar o cômodo e separá-lo dos demais ambientes por meio de uma parede vazada, ao lado da entrada. “A circulação do apê é dirigida para a esquerda, o lado onde estão a sala de estar e a varanda”, diz Silvio. O lavabo fica fora desse eixo, do lado direito de quem entra no apartamento.

No entanto, a escada foi o chamado “elemento surpresa” da reforma para o arquiteto. “Foram necessários cinco tipos diferentes de apoio para construí-la, diversos encaixes de metal e apenas um degrau de alvenaria... Sua engenharia é bem meticulosa”, explica Silvio Heilbut. As razões de tanto trabalho eram decisivas: o espaço entre cada degrau e o diâmetro da escada teriam de colaborar para a iluminação zenital da casa. “Preferimos degraus de madeira em lugar de vidro ou de metal vazado – são mais elegantes”, opina Silvio. No final, nada há de mais iluminado neste endereço do que a escada (o projeto com degraus em ipê e estrutura de metal custa R$ 19 mil, pela CLP Engenharia e Construções).

Depois de pronta, a escada continuou a ser um desafio: exposta a quem está no living, era preciso intervir na área abaixo dos degraus, que, com o passar do tempo, quase sempre se transforma em “canto de entulho”. Entra então em cena o paisagista Benedito Abbud, que assina o projeto paisagístico do apartamento por inteiro – na área sob a escada, ele criou a grande floreira. “Ela afasta qualquer desejo de juntar tranqueira ali...”, realça Silvio.

No andar de cima, as paredes de vidro em curva facilitam a distribuição da luz (na Penha Vidros, sob consulta). À direita, outra floreira, essa com bambus, faz moldura externa ao home theater, espaço que se comunica direto com a escada. Por causa de um degrau mal projetado na cobertura, Silvio evitou rebaixar o teto do home theater; e o tal degrau acaba por separar naturalmente aquele espaço do escritório, com porta de correr para manter cada um isolado. Porta que também evita, segundo o arquiteto, que as pessoas pisem em falso por conta do degrau.

Quanto à decoração, predominam móveis brancos que já pertenciam aos proprietários, como as cadeiras LC1, desenhadas por Le Corbusier (na Casa 21, por R$ 2.893 cada uma, com revestimento de couro branco natural e estrutura de inox). O piso de perobinha permaneceu na sala.

Na cozinha, cerâmica da Portobello e armários brancos, com mesa embutida na parede e cadeiras vermelhas – eis o colorido mais intenso de todo o imóvel. Na cobertura, o ofurô encontra-se sobre deck elevado (na Ofurô de Madeira, em cedro rosa e formato girassol, por R$ 4.500) para que os banhistas apreciem o skyline, mesmo se estiverem dentro da água.